
O que é que a Bahia tem? Perdoe-me a falta de criatividade em mudar a letra de uma música de Caymmi, mas hoje me pergunto acerca de nossa identidade cultural. Aquilo que se diz Bahia nas telas de tv e anúncios de site é a Bahia de lindas praias, de uma democracia racial que só eles enxergam, do farol da Barra, Pelourinho e carnaval com trio elétrico, de baianas coloridas e do aroma sinestésico e anestésico do acarajé.
E a Bahia do sertão, das secas, da falta de água, do Rio São Francisco, do falido Cacau e do “próspero” algodão? A barragem de Sobradinho e os “filhos sem pátria” das áreas rurais? Onde está a Chapada Diamantina, o Jorro de Tucano e a caatinga de Senhor do Bonfim? Este dito discurso de baianidade só agrada mesmo aqueles urbanos soteropolitanos e alienados quanto ao espaço total de nosso rico e belo estado.
Bom mesmo é sair daqui do Estado e ouvir o velho discurso do “de fora”. A Bahia da preguiça, da malemolência, do gingado e da capoeira, da fita do Senhor do Bonfim e da Lavagem de 2 de fevereiro. O finado ACM, a louca Ba x Vi e ainda, as ladeiras esgarçadas e a pobreza eminente. Onde está a Bahia da do quiabo e dos candomblés? Cadê a Bahia dos atingidos por barragens e das centenárias comunidades quilombolas? Onde está a beleza e atratividade do sertão e o dia de São Lázaro na pauta de festas tradicionais? Cadê o carnaval de Periperi e Cajazeiras e as humilhações de cordeiros na Barra-Ondina? Onde estão expostos os desagrados dos camarotes e a mercantilização de uma festa antes popular e atualmente, não muito? Desconfio muito disso que dizem por ai, acerca do ser baiano. Vai até o interior do Estado e pergunta se esse tempero que colocam nesse prato agrada de fato a esse povo tão bom de garfo!
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