Alfinete nos olhos! Observar pra quê?

Alfinete nos olhos! Observar pra quê?
A intuição me parece mais lúcida que o raciocínio parco dessa gente Reality... Para outros, é necessário criticizar e aqui é o lugar!

Blog do Abuh

Destinado a refletir, a liberar os sentimentos críticos, falar sobre a vida e intercambiar pensamentos. Jardim repleto de flores e frutos, comestíveis e outros, indigeríveis. Depende do seu gosto, ou desgosto!

sábado, 29 de dezembro de 2007

Corrupção e um vale férias pra descansar!


Nós, trabalhadores brasileiros, dispomos de um mês de férias em troca de todo um ano trabalhado, labutando pra descansar apenas um doze avos do ano. Pois bem. Nossos políticos, ao qual a atividade laboral é imensamente discutível descasam três meses do ano, enquanto nos nove restantes trabalham se muito, quatro...

E ganham salários exorbitantes, pleiteiam demandas que raramente atendem o desejo popular e ainda, conseguem arranjar motivos para serem corruptos, e iniciam a chamada politicagem faceira, que nos tempos de hoje, já perdeu até a cara e a vergonha. São milhares, ou milhões de reais envoltos em concordatas e degenerações, onde nós, pobre povo colonizado, só sabemos da mínima parte. O pior está embaixo dos tapetes.

Estarão eles na Europa, nos “Estates”, em Fernando de Noronha. Gastando as buchas com direito roubado e não suado, vendendo saúde e proibindo a população de uma dignidade ao qual merecemos e queremos. Mas é claro que a corrupção aqui não é banida e nem justiçada. Quem seria louca de matar a galinha dos ovos de ouro? É um país canalha mesmo! Bem, acho que hora de tirar férias... Esse país me cansou, o problema é que não devo ler jornal, revista ou televisão. Posso acabar me aborrecendo.


Em tempo, antes que a Companhia Aérea cancele minha viagem. Ser político é um ato de fé. Fé nas suas convicções, nas suas aprovações e nas suas mitigações. O povo? Ah, que nada. Quem é o povo?

sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

Devaneio de um saudoso ser humano


Acabei de ler essas palavras de uma celebridade: “Como sou uma cidadã do mundo, aprendi que saudade é uma palavra que só existe na língua portuguesa”. Estranho ouvir isso, de uma pessoa que julgava ser pelo menos sensata. Parece, através de suas palavras e do contexto (ela está saindo de um famoso programa de tv) que os sentimentos são selados a partir da criação das palavras... Saudades então só existe entre os pobres colonizados que formam o País Brasil?

Ora, sem medo de me tornar parnasiano, não é por que viajo o mundo e conheço deveras suas cicatrizes e esquinas dos cotovelos que posso negar a existência de um sentimento, diga-se de passagem, grandioso, doloroso e bonito. Quer dizer que saudade não existe?

Quando as pessoas que amamos se afastam, o que sentimos? Quando perdemos alguém que amamos, o que sentimos? De momentos felizes e carinhosos, que passaram e nos marcaram, o que sentimos? Objetos que um dia nos foram importante e que por algum motivo se perderam, o que sentimos? Talvez, devamos ressignificar o sentimento, porque nenhum outro lugar do mundo caracteriza esse sentimento? Ou deveríamos ressemantizar e chamar de “dor da perda”, “vontade de ver de novo”, “desejo de reencontrar”.

Faça-me uma garapa! Parece que conhecer o mundo torna algumas pessoas bestas e simplórias. E lhe digo com o ranço de quem se decepciona: Sinto saudades do tempo em que o mundo era do tamanho que ele realmente é: grande. E as pessoas eram senão mais humildes, porque se sentiam do tamanho que de fato são: pequenas.

quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

Víbora do Gabão


De trevas e ressurgimentos magnânimos, nada mais nos corrompe do que nossos próprios anseios e fraquejos, do que nossas embolias e letargias, do que nossa própria confluência ao confuso missionário autoconhecer. Nos destruímos, reconstruímos e novamente, aniquilamos. Muitas vezes em busca de perfeição e em outras, por sermos deveras, predadores de nossa própria extinção.

Laboriosas batalhas onde, a vitória é o ressurgimento de novos paradigmas, de novos cataclismas e de novas feridas putrefatas apostemadas que jamais se fecham. Parecemos buscar limites e concessões e onde menos devemos, mais desbravamos pra depois perceber que aquela guerra era senão desnecessária, pelo menos inútil, em outras vezes, aquilo foi importante, transformadora. Surgem mais cicatrizes e hematomas. Somos uma teia de marcas da vida, de sanguinolência e falsas percepções, de loucuras em meio a decepções.

Às vezes, de uma saga vitoriosa, fechamos algumas marcas, outras ainda persistem. Amadurecemos e nos apercebemos, conhecendo o nosso imago pueril, a nossa beleza em meio a tantas oscilações. Os outros inimigos existem, mas não importam, somos algozes de nossa própria paz interior. E o que fazer para minorar os efeitos desse corrosivo? Bem, complicada a questão. A única maneira de reduzir os danos é não repetir batalhas, não cultivar deslizes e valorizar as vitórias. Persistência nesse caso é fundamental, pois o “inimigo” pode surgir a qualquer momento, sem necessitar de um chamado. Tal qual a Víbora do Gabão se alimenta e se refugia, a espera de um novo momento propício, ou seja, sua fraqueza. Sempre faminta fica a espreita, aguardando, sorrateira. O que é salutar é que depois do ataque, podemos perceber que amadurecemos um pouco, nos machucamos muito e que esse é o mais natural e emblemático sentido da vida: lutar sempre!

terça-feira, 25 de dezembro de 2007

O fim sem um ciclo... Ou seria um ciclo sem fim?



Nesse ano, o ano do Porco (leia Horóscopo Chinês), muito girou em torno do aquecimento global. Instâncias de debates, manifestações e decisões se misturaram ao disse-me-disse, ao desencanto, ao maniqueísmo e ao discurso fácil. E poluir significa enriquecer, e enriquecer não há argumento que negue, ser esse motivo, mas relevante que qualquer outro.

Existem sinais claros para mentes obtusas compreenderem que algo está errado. Calotas polares, chuvas torrenciais, mudanças de ciclo de migração de animais, temperaturas ofegantes, enfim... A verdadeira loucura, ou para melhor dizer, confusão. Nesse ano do porco, muita coisa surgiu mais agressiva, menos ostensiva e muito, muito mais discursiva. Vamos despoluir! Pensem nas focas (Ou seria crianças?) de Hiroshima! Sofram pelo Tambaqui (ou aqui seria Haiti?)! Menos emissão de fumaça, parem de fumar! Sim ao rodízio, deixem seus carros na garagem, andem de ônibus velhos que mais parecem chaminés a “barrufar” nuvens cinzas.

Há um contra-senso em meio a tanta ‘porc’aria, em meio a essa falácea ambientalista de poucas medidas eficazes, onde sinaliza que esse ano do pobre Porco significa não sujeira e sim, a força de quem pode mais, de quem argumenta errado e ainda sim prevalece. Ano de mais poluição, de temperaturas mais altas, de mais preocupações. Ano que vem? Ano do rato. Vixe! Imagina se os poderosos subverterem a máxima do “Quem mexeu no meu queijo?”. Acho melhor que os litorâneos preparem seus barcos e comprem roupas de lã. Não há o que fazer! Aliás, há muito, mas a culpa sempre é do bicho. Aqui, pobres seres “irracionais”. Nós é que raciocinamos. Será?

O verdadeiro sentido... Ou pelo menos o mais adequado.


Não trato aqui de questões epistemológicas, de alegorias católicas ou de absenteísmo cristão. O sentido do natal é plural, diverso, controverso e muitas vezes, deplorável. Dentre muitos sentidos, a fé renovada me parece legítima, visto que muitas vezes, esquecido durante todo o ano, as alturas ressurgem como vedete de glorificação, de emoção e de reconciliação com votos de fé dantes repugnados. O que antes era esquecimento ou quiçá, lembranças momentâneas em desesperos, torna-se nessa época, a matriz geral dos pensamentos, reclusas e pedidos... Por favor.

Outro sentido relevante é o da caridade, tentar minorar efeitos egoísticos e amenizar tanta concentração de riqueza em prol de pegar uma pequena parte (muitas vezes) e dividir. Claro que aqui subtrair, significa jamais se desvencilhar daquilo que é novo, o usado sempre vai na frente. Há também casos em que a entrega é total, e o mais precioso dos sentimentos são doados, esmiuçados, verdadeiras ações que mesmo que seja “fullgas”, em muito ajudam aqueles que aguardam, pelo menos, uma mão amiga.

Por fim, o sentido mais ressignificado: o presente. Não que seja ruim presentear, mas a corrida em busca de presentear materialmente, suplanta qualquer idéia de que se não pode, outras formas de presentear existem. Cartões de crédito, cheques-borracha, economias mensais absurdas, empréstimos e mais empréstimos... Natal sem fé, sem caridades, tudo bem. Natal sem presente? Jamais. Que maravilha então as liquidações, assim posso presentear mais gente. E te dou, ornado com belo papel e laço de fita. Bom mesmo é quando por dentro disso estão entranhadas a fé e a caridade.


Como isso é possível? Lembrando que podemos dar a um desconhecido algo de bom e que será importante e ainda, que maior que nós, aqui, reles criaturas em busca de sentido nessa vida, está alguém que ora nessa data nos faz lembrar que nesse momento é preciso aprender que o próximo é todo aquele que precisa de ajuda, não necessariamente de um presente.

sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

Azaléia Grená


A Vida parece mesmo ser uma roda vida, transgressora, modificadora, alienadora. O motivo de vivermos sob a Terra parece muitas vezes inócuo, irrelevante, sem sentido, na verdade é o sentido das coisas, o fatale para a vida, a emoção guardada em silêncio. Isso pode estar contido (sem alusão aritmética) nas pessoas, objetos, seres vivos em geral. Poder estar na observação, na reflexão, na emoção, na modificação.

A Vida parece mesmo ser uma roda viva, incessante, instigante, mutante. E por mais que busquemos respostas, o ponto de vista depende de onde estamos, como estamos e com quem estamos. Como um alúvio coberto de incertezas, naufragamos em meio à chegada no horizonte e lá estamos, apesar de tudo, seguros. O mais incerto é o mais secreto sonho que se torna palpável e concreto, inacreditável.

A Vida parece mesmo ser uma roda viva, sentimental, normal, sexual. O que nos movimenta senão o amor, a esperança e a fé... E mesmo que tudo magneticamente nos pereça, a batalha está justamente, nesse poder de não sucumbir, de sair e prosseguir. Não adiantam as filosofias copiadas de ocultas sensações, o que vale são as suas deflexões e sensações, seus meios e o seu próprio fim.


A Vida é mesmo uma roda viva, letal, seqüencial, genital. Útero incessante de possibilidades, de maldades, vicissitudes e similitudes. Repleta de dores, horrores, dissabores e esplendores. A Vida é o ponto de vista de um ângulo, obtuso, agudo ou ausência de um. A Vida é ter encontrado, felicitado e valorizado. É destruir e ter força de reconstruir é desistir e logo depois conseguir, é desejar e muito em breve possuir. A Vida é uma roda viva, pulsante... Quer sentir? Coloque firmemente a mão no seu peito... O que é isso? Você, sua vida, suas paixões e suas emoções. O que fazer com isso? Distribua a quem de direito é, se assim não fizer, em nada haverá sentido em tudo isso.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

O bêbado trajando luto...


Estarrecidos, olhamos embriagados esse País sem escrúpulos estar entre os seis, em quesito economia... Engraçado. Desconfortável. Instigante. As arrecadações pertinentes e suficientes (?) são oriundas do meu bolso e também do seu, ainda, estatais “privadas” e privadas “estatais” que enchem os cofres públicos à revelia do bom-senso e da transparência. Mas tudo é tão popular...

E reflito sobre isso ébrio, tomei apenas meio copo de água oriunda daqui da torneira, que de tão cara, valoriza-se mais que garrafa de água mineral. Água pública, advinda de empresas estrangeiras, que comandam da fonte à foz todo o seu percurso deveras lucrativo... E pago impostos e pago impostos... Valorizar o quê, se já vem valorizado? Valorizar o que não o é, ou seja, povo sofrido, recursos naturais exuberantes degradados, consciência popular manipulada e sobremaneira, ode àqueles que ainda conseguem ter nesse mar revolto, algum tipo de sanidade. Isso sim, controverso, pois de tudo pode se esperar, até mesmo, a rejeição de desejos de uma sociedade que clama por atenção, mas uma atenção ao nosso discurso e não ao que julga ser o nosso discurso sem ao menos, ter nos ouvido.


Parece muito, tudo isso um circo mambembe, que não passamos de loucos, bêbados, insanos, que precisam de metas, queiramos elas ou não. Então, paguemos impostos, soframos violências das mais diversas, conheçamos a realidade maquiada, mingüemos a essa realidade torta e ambivalente. Melhor daqui sair, e procurar refúgio em Cuba. Ah, sim, que até tem “líder pra se aposentar” , como se este ou esse aqui, fossem assalariados e pagassem o alto custo de ser cidadão. Certo era aquele que bêbado, vestia luto... E ainda conseguia em um coração puro e forte, lembrar Carlitos... Nem devo ir a uma mesa de bar, é capaz de beber tanto e passar a compreender a realidade como ela é. Me deixe sóbrio. Ou será o contrário?

quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

P de Permanente. P de Provisório. P de Perdeu. P de Povo!





Quem assistiu o “rico” debate dos senadores acerca da CPMF, no mínimo, se divertiu sem pipocas e pouca luz! Desgastante, hipócrita e estarrecedor momento nacionalista, pró-anseios políticos partidarista. Os que dantes fundaram o P de provisório e que permaneceram... Agora atacam os que pegaram o permaneceram no meio e ainda querem que permaneça até 2011... E nada mais inacreditável do que um bom cara-de-pau para argumentar.

Os discursos pró-povo que paga o imposto versus povo que é legitimado pelo mesmo é confuso, pois não seria anormal pensarmos que tantos impostos já pagamos e que nada de claro em relação existe acerca de benesses de um povo que trabalha e arca, sem sonegar.


Mas voltando ao circo, muitos senadores lascaram o verbo, às vezes, a língua portuguesa inteira, para dizer que nada mais “impáfio” que a tal cobrança, e o povo vai se alegrar com a ausência do imposto, os alimentos irão baixar... Mas nesse caso não é o ICMS que pesa? Fiquei confuso. E mais lindo do que isso é o desejo de que a soberania popular é a única deixa pra que isso deixe de existir... Oh... Reforma tributária já!

E aqueles que acreditam no P de Provisório por mais um pouco de tempo, dizem que a Saúde vai se beneficiar disso. Mas não foi criado pra colaborar com programas de saúde e a efetividade disso é totalmente discutível? Agora mudaria? E o Governo se vê tal qual barata em dia de faxina, louco pela perda de uma fonte pra gastos que deveria ter tido a essencialidade da etimologia do P ter sido elaborada como Permanente e não Provisória. Eita País de gente atrapalhada!

sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

Crepúsculo de minha vida...


Depois da aurora, do amanhecer e do iluminar, é necessário cumprir o ciclo, com o crepúsculo, o entardecer e o apagar. E mesmo que não seja uma analogia nem uma tentativa dialógica de unir extremos, se trata de uma tentativa de perceber as diferenças. Afinal, curtir a vida é um fato, saber que ela é às vezes inóspita e também de ciclo precoce, é o óbvio, acho que algo passa despercebido: o final constante.

Protelamos muitas vezes na esperança de um futuro, que é movediço. Ensaiamos atitudes na expectativa, como se a chance e a hora certa fossem chegar. Será? Porque achamos que o tempo é o senhor da razão se esse dito tempo é mais subjetivo do que a própria razão? E essa idéia de que há o momento certo não rompe a idéia de que o tempo voa e que pra nascer basta estar vivo? E porque nos moldamos a isso e esperamos? Qual o motivo de não viver intensamente agora (claro que sem se autodestruir) e aproveitarmos esse filete que temos antes de se apagarem as luzes?

No fato acho que no confiamos em algo surreal, as possibilidades! E por mais que as probabilidades sejam das ciências exatas, creio que não seja muitas vezes sensato esperar. E se você discorda de mim, veja como muitas vezes se pega dizendo que o tempo passou... Perdeu tempo! Esperou! Achou melhor depois! E se fez logo, se achou que era agora, se pensou que era a chance e por algum motivo não deu certo é circunstância, mas é confortável e confortante. Tentou. E por mais que o Sol sempre saia, todos os dias, você pode um dia não ver isso. E depois de perceber que não cedeu ao momento de vislumbrar, amanhã já poderá não vê-lo, as nuvens podem estar no céu, a lua pode chegar mais cedo ou você poderá ir tão logo... Catastrófico? Realista.

Aurora de minha vida...


Dê-me a chance de algumas palavras mais doces। O mel de meu coração, que muitas vezes assemelha-se ao fel, agora deseja sucumbir frente às lembranças। Você percebeu que a vida é tal qual raposa e quando a percebe ela já te levou, tendo o tempo como aquele que te distrai e as lembranças como aquelas que te iludem.


Mas como viver cada minuto? A vida cotidiana e moderna te empurra para o imediatismo, para o essencialismo e o pior, para o determinismo: é preciso! E mesmo que não seja preciso, tudo na verdade te ilude e contamina, e a cada dia perdemos um pouco de nós em busca de um bem coletivo (?) onde o final é o seu fim, solitário. E aquela aurora de sua vida antes, tão acariciada, passa em sincope de tempo a ser finada, e o incrível é que nem aproveitou.

Na verdade não tenho nenhuma solução pra esse dilema, afinal, todos passamos por isso sem ao menos perceber que a cada dia deixamos pra trás as mil oportunidades de ter feito aquilo, e agora é tarde! E depois ficamos nas lamentações comuns de quem se arrepende, falando de um passado não vivido, de um futuro escorrido pelas mãos e de um presente sem perspectiva, já passou. E ai, aquela célebre frase, dos tempos que não voltam mais, torna-se argumento pra dizer, que o oco daquele passado poderia ter sido tapado por um pouco de senso de realidade. O futuro não existe. E nada pior do que, aquilo que nunca foi ainda ser desejado pra voltar. Saiba que agora, é sua hora, depois, terá sido a hora que você perdeu ao menos que saiba o que quer, e querer nesse caso é fator de uma última necessidade. Perdoem-me aqui o determinismo.

Tempero baiano em meio ao nosso cotidiano.




O que é que a Bahia tem? Perdoe-me a falta de criatividade em mudar a letra de uma música de Caymmi, mas hoje me pergunto acerca de nossa identidade cultural. Aquilo que se diz Bahia nas telas de tv e anúncios de site é a Bahia de lindas praias, de uma democracia racial que só eles enxergam, do farol da Barra, Pelourinho e carnaval com trio elétrico, de baianas coloridas e do aroma sinestésico e anestésico do acarajé.

E a Bahia do sertão, das secas, da falta de água, do Rio São Francisco, do falido Cacau e do “próspero” algodão? A barragem de Sobradinho e os “filho
s sem pátria” das áreas rurais? Onde está a Chapada Diamantina, o Jorro de Tucano e a caatinga de Senhor do Bonfim? Este dito discurso de baianidade só agrada mesmo aqueles urbanos soteropolitanos e alienados quanto ao espaço total de nosso rico e belo estado.

Bom mesmo é sair daqui do Estado e ouvir o velho discurso do “de fora”. A Bahia da preguiça, da malemolência, do gingado e da capoeira, da fita do Senhor do Bonfim e da Lavagem de 2 de fevereiro. O finado ACM, a louca Ba x Vi e ainda, as ladeiras esgarçadas e a pobreza eminente. Onde está a Bahia da do quiabo e dos candomblés? Cadê a Bahia dos atingidos por barragens e das centenárias comunidades quilombolas? Onde está a beleza e atratividade do sertão e o dia de São Lázaro na pauta de festas tradicionais? Cadê o carnaval de Periperi e Cajazeiras e as humilhações de cordeiros na Barra-Ondina? Onde estão expostos os desagrados dos camarotes e a mercantilização de uma festa antes popular e atualmente, não muito? Desconfio muito disso que dizem por ai, acerca do ser baiano. Vai até o interior do Estado e pergunta se esse tempero que colocam nesse prato agrada de fato a esse povo tão bom de garfo!

terça-feira, 4 de dezembro de 2007

Malícias de um populista de milícias.

Minha gente, em meio à greve de fome e a um Congresso de Ciências Sociais e Barragens ocorridas aqui em Salvador, a questão dos atingidos por barragens e o tal crescimento nacional parecem ser assunto de primeira página. Mas qual o papel de nossas humildes pessoas, atingidas por violência urbana, falta de saneamento, hospitais precários e escolas sucateadas? O que o Rio São Francisco e as pessoas beiradeiras desse rio têm a ver com nossas vidas?

Imagine que ouvi nesse congresso que mencionei, um agricultor, morador da beira do da barragem do Sobradinho dizer que ele não tinha luz! Quanta obscurescência nesse país. Aquele mega-empreendimento que desalojou pessoas de seus lares e colocou (muitos deles) pra bem longe dali parece mesmo ter tido um endereço próprio: o desenvolvimento das grandes indústrias e latifundiários. E agora? Transpor um rio pra “dar” água a quem tem sede... Pobre e assoreado rio, que em sua fraqueza histórica de degradação e força poética de uma imensidão natural, tem agora nas suas veias e entranhas a missão impossível de fornecer o que quase já não possui: ÁGUA.

E um governo de discurso populista parece achar coerente toda essa estapafúrdia obra de levar água pra quem precisa, havendo outras formas de captação que não tão danosas e mil outras argumentações pra que todo esse projeto fique como tantos de importância nacional e que se escondem nas gavetas de engravatados. Será que a idéia de revitalização soa sem sentido nesses ouvidos operários? Será que um povo que sinaliza o seu desespero e a sua marginalização não corresponde a uma realidade que deve ser considerada? Será que os estudos de Universidades e Instituições de Pesquisa não demonstram o que se passa nas margens e profundezas do rio? O que me parece é que nessa milícia com discurso de desenvolvimento, até aquele tão populista parece na verdade que não corresponde ao seu papel mais esperado e sim a uma idéia de que com malícia tudo se conquista!

sábado, 1 de dezembro de 2007

Espectro de luz translúcida.


Quando não sabemos o que temos, mas isso que temos é tão vital só quando perdemos, ou mesmo só quando reconhecemos é que então conhecemos aquilo que dantes já tínhamos como vital e especial. Quando não sabemos o caminho, e mesmo que tudo pareça confuso como um redemoinho, seguimos em frente sem saber ao certo o resultado desse destino.

Quando nos tornamos opacos, invisíveis e irreconhecíveis a nós mesmos, confusos e algozes de nossas próprias sortes o que nos resta é virar o avesso e compreender o tecido que pode estar esgarçado, pois jamais fora cuidado. E por mais que a transparência seja na verdade, apenas a possibilidade de imaginarmos com mais clareza, ver de fato é muito difícil. Na verdade, os nossos olhos precisam observar, e quando isso não é possível, ele cria ao seu bel-prazer aquilo que mais o acalenta.

Mas a lei da vida é mutante, metamorfose a todo instante, renitente e ao mesmo tempo expoente, educadora e propiciadora. Imagine-se à beira de um precipício, prestes a pular, com poucas chances de sobrevivência caso pule. Não podes mais voltar. Só há uma chance de sobreviver, imagino eu: Se jogue. Caia. Mas nesse percurso diminuto em segundos só faça uma coisa. Deixe à mostra sua luz translúcida, revigore seus desejos e descarte seus erros. No exato momento da queda, aquilo que ali sobrará será na verdade, o seu EU muito melhor do aquele que havia pulado. E por que eu disse que isso seria sobrevivência? Certamente passará alguém por ti, e verá aquilo que sobrou, e se encantará. Somos sementes, possíveis de serem replantadas. Aqui não falo de ressurreição e nem de reencarnação. Falo de nova possibilidade de vida fazendo tudo diferente, crescendo e sendo pleno, falo do que seja um grão, que “tem que morrer pra germinar”.
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